Acho que
um dos temas que mais anda em voga nos últimos tempos é a questão
do feminismo. E também não é por menos. Num curto espaço de tempo
surgiram tantas manifestações – de proporções significativas,
aliás – e discussões relativas a temas “novos” como a
“cultura do estupro” que é impossível de se passar batido. No
entanto uma coisa que eu noto é a falta de compreensão de muitos em
relação ao tema mais intrínseco de toda essa discussão: o
machismo.
Parece
que, para uma grande maioria, o machismo é simplesmente o
comportamento desrespeitoso e preconceituoso do homem em relação à
mulher. No entanto o termo não se limita a isso. Não são só as
mulheres que sofrem com o machismo. Todo homem no mundo também é
vítima da ideologia machista, mesmo que isso não seja tão
explícito.
Desde
pequeno o homem é condicionado a adotar um certo comportamento, a
gostar de certas coisas. A gente é ensinado que homem gosta de
futebol, brinca de carrinho e não pode se interessar por coisas que
tenham um caráter mais sensível. Não. Sensibilidade é coisa de
mulher e de bicha. Homem que é homem busca o instinto primitivo da
barbárie, da grosseria e desleixo que está lá dentro, no nosso
cerne.
Se você
é diferente disso, se foge desse padrão: reprima e guarde tudo pra
si. Caso contrário suporte a taxação de bichinha, fresco. Caso
contrário aceite ser um não-homem. Aceite que você não se
enquadra no seu gênero.
Assim
todos vamos crescendo, sob a influência de um mundo onde a cabeça
pensante do homem tem que ser, sem exeções, a de baixo. Um mundo em
que todos os problemas podem ser resolvidos por meio da força.
Generalização? Quem sabe. Mas ao menos uma boa parcela das pessoas
pensa desse jeito sem nem mesmo perceber. Para ilustrar um pouco a
situação peço agora que você, leitor, imagine a seguinte cena: um
homem chega numa mulher em alguma balada que seja, e ele leva um
fora. A mulher nesse caso “se deu o respeito” e o homem cumpriu
seu papel social, de uma forma ou de outra. Agora e se a situação é
o contrário? Se a mulher chega no homem e ele dá um fora nela, como
os dois protagonistas saem dessa história? Provavelmente o cara
seria zoado pelos demais amigos, zoações sem maldade (ou com,
também depende dos “amigos”), nada fora do comum. Afinal, que
tipo de homem se recusa a desempenhar seu papel de macho alfa? Que
tipo de homem se recusa a devorar uma fêmea que se oferece a ele?
Apenas um não-homem, claro. Dentro dessa comparação poderia ser
feito um link para demais discussões como essa questão da “mulher
que se dá o respeito” e o papel instiuído ao homem de angariar ao
seu redor o maior harém possível e constituir uma lista pessoal
lotada de nomes femininos que já passaram pelas suas garras. Tudo em
prol da afirmação da virilidade. Tudo inconsciente, pelo menos em
boa parte dos casos. Mas enfim.
Todos
sempre fomos condicionados a nos afirmar. A provar pra alguém o que
somos. Pra ser homem não precisa gostar de futebol, assistir UFC,
saber tudo sobre carros, frequentar academias e só se interessar por
filmes de ação. Não. Um homem também pode ter sensibilidade,
gostar mais de artes do que de esportes e ver com olhos críticos
certos aspectos do “ser macho” - incluindo tudo que já elenquei
ao longo do texto, como a necessidade do homem ser o “pegador”
para ser homem.
Imagino
quantos “diferentes” mantiveram sempre guardada a sua
individualidade e repúdio a esses estereótipos, por medo de
rejeição, pelo medo do isolamento. E adotaram esses mesmos
conceitos antiquados como máscara social, pra não acabarem
sozinhos, pra não acabarem sem lugar, sem identidade, sem gênero.
Confusos.
Vamos
desconstruir o machismo.
"De onde vem a calma daquele cara?
Ele não sabe ser melhor, viu?
Como não entende de ser valente?
Ele não sabe ser mais viril
Ele não sabe não, viu?
Às vezes dá como um frio
É o mundo que anda hostil
O mundo todo é hostil
De onde vem o jeito tão sem defeito?
Que esse rapaz consegue fingir
Olha esse sorriso tão indeciso
Tá se exibindo pra solidão
Não vão embora daqui
Eu sou o que vocês são"
Los Hermanos - De onde vem a calma
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