sexta-feira, 31 de maio de 2013

Em crise na Terra do Nunca

Esse post é um oferecimento de: Crise Existencial

Numa época longínqua em que ainda éramos muito novos para sermos bombardeados com perguntas como “E os namoradinhos?” nos almoços de família, aquela tia de Piracicaba sempre emplacava outra questão: ”O que você quer ser quando crescer?”.  As respostas infantis eram muito coerentes e lógicas: bailarina, embora não tivesse a mínima coordenação motora; Atriz, mesmo sem o menor talento para derramar lágrimas de crocodilo; Jogador de futebol, com duas pernas esquerdas; Astronauta, lutando contra o medo de altura.
Em algum momento (segundo levantamentos feitos durante a aula de Teoria do Jornalismo, geralmente aos doze anos), as decisões foram tomando forma. A criatividade virou inclinação para Publicidade, o desejo de escrever e contar histórias te empurrou para o Jornalismo e [INSIRA UMA PIADINHA SOBRE FAZER CAFÉ NESTE ESPAÇO] trouxe RP para a sua vida. Então, numa bela tarde de janeiro, vimos nossos nomes na lista de aprovados no vestibular e pensamos que nosso futuro estava totalmente decidido, como se magicamente todas as peças do quebra-cabeça tivessem se encaixado e uma trajetória de sucesso óbvia estivesse definida.
Adivinha. Não é bem assim.
Menos de dois meses depois de as aulas começarem, já é possível perceber que escolher um caminho para seguir é mais difícil do que parece. Ao contrário daquela prova de física do Ensino Médio, não é possível chutar “D” de Deus ou fazer uni-duni-tê. A cada dia que passa fica mais evidente que Comunicação é uma área vasta o suficiente para te fazer se sentir perdido dentro do que parecia tão certo. Nesse labirinto de opções, novas perguntas se formam ao fim de cada palestra (quando permanecemos acordados): Diretor de arte ou Redator? Repórter ou Fotógrafo? Será que eu fico aqui mais uns aninhos e faço mais uma habilitação? Ou mais duas? Ou presto Cinema na FAP? Mas eu queria mesmo ser VJ da MTV! Ah, que se dane. Vou apelar para voz e violão no barzinho mais próximo.
 Acho que o grande problema é que quando respondíamos “O que você quer ser quando crescer?” com tanta certeza e convicção, achávamos que éramos meio Peter Pan. E agora, surpreendentemente, descobrimos que somos Wendy e que vamos crescer sim. O pior: Já crescemos. Pelo menos no documento de identidade.
Enquanto o meio de campo está embolado, a megera da tia de Piracicaba continua fazendo perguntas na ceia de Natal: “E a faculdade? E o emprego?”. No meio da confusão, nos limitamos a dar a resposta mais manjada e evasiva de todas: “Ah tia, estou com uns projetos aí”. Talvez porque crescemos rápido demais. Ou talvez porque não crescemos o suficiente. Ainda.

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