sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Tormenta de pensamentos


“O que faz a esperança um prazer tão intenso é que o futuro, que está à nossa disposição, nos surge ao mesmo tempo sob uma imensidão de formas, igualmente risonhas, igualmente possíveis” Henri Bergson, “Ensaio Sobre os Dados Imediatos da Consciência”.

Txxxxxx! Era o barulho do interbairros II fechando suas portas, enquanto um jovem de cabeleira esquisita e envolto por várias jaquetas descia do ‘’bonde’’. Esse moleque pimpão parecia ter um destino, em sua mente borbulhavam expectativas de uma festa que ocorreria, era na casa d’um tal de alemão, mas antes ele teria que descobrir como chegar lá. Estava bem escuro na Rua João Schledler Sobrinho com a Rua dos Dominicanos, logo ali, na fronteira entre a área comercial e residencial do Boa Vista. O menino parecia um tanto perdido e insanamente tresloucado para atravessar as ruas. Enquanto o ruído de uma motocicleta acontecia, o jovem perguntava numa confeitaria como chegaria ao endereço desejado.
Muito ingênuo não? No meio daqueles corredores tortuosos boavistianos, surpresas obscuras o esperavam, ele procurava uma rua com a parte do nome final: Geronasso. Mas não era assim como a vida funcionava, ele percebera que todos os finais, de pelo menos 10 ruas da região, terminavam com esse sobrenome. Era uma pena, a neblina acobertava os possíveis assaltantes e outros tipos de seres que podiam estar esperando na surdina. Até que após algumas ligações um tanto frenéticas, ele descobrira que estava no começo da rua desejada. A ansiedade tomava conta de seu olhar, enquanto suas pernas faziam um tênue ziguezague, quem estaria no alemão, será que já tinha começado? Ele não sabia mais quanto tempo estava ali, a bateria tinha acabado alguns minutos atrás. Soltou agora uma frase, murmurando baixinho:

- Estou chegando, é no número 503, e estou no 400.

Mal ele sabia que ao chegar no número 450, os números começavam a baixar. Agora no momento em que caminhava, pensava no que acontecera mais cedo, um misto de tristeza e incapacidade que não queria que ninguém soubesse:  o ato de simplesmente falhar como ser humano, e desapontar a si mesmo, mas ele persistiria, lembrava o quão duro tinha dado para chegar ali, a respiração se tornava intensa. Bufava agora, elogios descarnados a sua má sorte, reclamando da vida. Já bastava aquele maldito infortúnio que passara no mesmo dia, maldito seria aquele empata foda que acabara com seus planos juanísticos naquela tarde. Um raio caiu.

Foi aí que parei de me ver, era como se Michael Douglas estivesse assistindo “Um Dia de Fúria” em sua própria televisão. Voltei a minha consciência de gafanhoto, não percebi que a rua foi ficando mais estreita, tudo foi ficando mais claro, a neblina se dissipara, contrastando com a luz da Lua que agora pairava. Os números foram subindo, até que enfim achei meu destino, um belo sobradinho, com meus amigos esperando em frente à porta. Foi aí que houve aquele amplo sorriso, brilhando numa garrafa de Balalaika.  

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