quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Pequeno engano

Semana passada fui ao Banco. A moça que me atendeu foi super simpática, usava um laço no pescoço, lembrando uma aeromoça, e teria toda a minha atenção se não fosse por, após pegar minha identidade, passar a me chamar de Kaupê. A pronúncia correta é Kaípe, mas, tendo em vista a grafia e a singularidade do nome, nunca me importei com os frequentes enganos e, dessa vez, não havia sido diferente até então.

Porém, eu voltaria a encontrar a Karina, a moça do banco, muitas outras vezes. Afinal, eu queria retirar meu cartão e, toda vez que eu ia até lá, faltava algum documento e eu tinha que voltar outra hora. Numa dessas idas, eu ofereci um pedaço de um chocolate que eu estava comendo, ela aceitou. Honestamente, eu não sei por quê. É sabido que as pessoas oferecem o que elas estão comendo aos outros por pura educação. Ninguém realmente espera que a outra pessoa vá aceitar, mas os funcionários daquele banco provavelmente trabalham sob algum regime de escravidão, alimentando-se de doze em doze horas. Por isso, a moça aceitou.

A partir desse episódio, ela começou a me tratar com excessiva simpatia, mas continuando a se dirigir a mim como Kaupê. Por vezes, Kaupe. E, nas últimas duas vezes, ela já me chamava de "Kau". A Karina também me apresentou aos outros funcionários quando ela não pôde me atender e me indicou para uma mesa vizinha. Em pouco tempo, todo a agência passou a me tratar dessa maneira. Eu sei, eu deveria ter corrigido na primeira vez que a moça me chamou pelo nome errado. Agora parece que cada oportunidade que eu deixo para trás de corrigí-la fica mais complicado ainda. 

Por isso, estou seriamente considerando mudar de nome. Talvez Kaupê não seja tão ruim assim. Ou eu poderia trocar de banco. Mas para isso teria que encerrar a conta nesse e ouvi dizer que isso é meio que impossível. Talvez eu possa processar minha mãe por calúnia e difamação por todos os momentos de vergonha que eu passei com meu nome, mas desconfio que, por ter se passado 20 anos, o crime já tenha prescrito.

* Texto produzido para a disciplina de Redação Jornalística

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