A minha
vida inteira eu estudei sobre marcos históricos e momentos de
ruptura. Estudei sobre revoluções, revoltas e a completa renovação
dos sistemas vigentes em determinadas épocas. Mas nunca imaginei que
um dia eu viveria algo assim.
Os mais
velhos, aqueles que viveram momentos de tensão e revolução no
Brasil, sempre fizeram questão de passar adiante a ideia de que as
novas gerações são muito acomodadas, que não têm a capacidade de
sair nas ruas assim como eles fizeram. E quando se ouve esse discurso
dia após dia, sempre vindo de figuras que supostamente deveriam ser
nossas referências, é muito difícil não se render às comodidades
do ceticismo.
Eu mesmo
sempre tive a vontade calada no peito de conseguir mudar alguma
coisa, de fazer minha voz valer. Mas sempre via as tímidas passeatas
nas ruas de Curitiba com olhos indiferentes, com aquela certeza
mórbida de que de nada elas valeriam, que tão poucas pessoas assim
não conseguiriam fazer alguma diferença, que faltava algo... E ao
mesmo tempo me sentia imóvel, sem motivação para buscar por conta
própria alguma causa pela qual lutar. E acho que grande parte da
minha geração também compartilha esse sentimento. O querer mas não
saber como agir, pelo que agir. As nossas causas são muitas, mas se
encontram tão difundidas que fica difícil reconhecê-las e
definí-las.
Mas
fazem alguns dias, desde que um estopim de 20 centavos explodiu em
São Paulo, que algo inexplicável tomou conta de mim. A vontade de
agir de alguma forma acordou no meu peito, dessa vez forte o
suficiente pra fazer eu me mover, forte o suficiente para me levar
para a rua pelos mais diversos motivos, pelas mais diversas pequenas
grandes causas, mas sob um único sentimento: a urgência de mudança.
E foi ontem, dia 17 de Junho, que eu senti a força de uma massa
unida.
No meio
das aproximadamente 15.000 vozes que tomavam conta das ruas de
Curitiba no III Ato Contra o Aumento da Passagem, as diferentes
causas surgiam em meio aos gritos de guerra. Fossem contra corrupção,
contra a copa, contra políticos em específico, contra o abuso da
polícia, violência, e tudo mais que se pode imaginar. Isso mostra
que as pessoas, antes de se decidirem sobre qual bandeira se unir,
por qual grande causa lutar, e como gerar uma mudança real, estão
primeiramente reaprendendo algo há muito esquecido: a ocupar as
ruas.
O povo,
em grande parte os estudantes, estão se dando conta de que ainda
existe a possibilidade de ir para a rua e reivindicar os nossos
direitos. Que se tem a possibilidade de reunir uma multidão em prol
de uma sociedade mais justa. De que ainda existem meios para que
lutemos pela mudança que queremos ver. Mesmo que ainda não saibamos
qual é a mudança específica que buscamos, afinal.
Lembro
de ter lido em algum texto esse ano que as revoluções constituem um
movimento irresistível e sem volta, no qual as pessoas acabam sendo
levadas por um sentimento inexplicável de novidade e euforia. E foi
isso que eu vi na rua ontem. Milhares de pessoas muitas das quais não
sabiam ao certo porque estavam protestando, o que estavam realmente
reivindicando, mas que sentiram a necessidade de se fazerem ouvidas,
sentiram a necessidade de contribuir com as grandes mudanças que se
põem diante de nós de qualquer maneira possível.
Muito
provavelmente eu ainda não possa dizer que o que houve ontem foi uma
revolução. Mas que foi um sinal, ah, isso foi. O dia 17 de junho de
2013 marcou o Brasil com uma mensagem ensurdecedora: nós estamos
aqui, nós despertamos um gigante que dormira em berço esplêndido
por anos demais. E, quem sabe, assim como os homens da Revolução
Francesa não sabiam a força que haviam despertado no início do
processo revolucionário, nós também não façamos ideia do que
iniciamos.
A
história está sendo escrita.
Poxa Bruno, entendo perfeitamente, compartilho tais sentimentos, finalmente saímos da inércia. Tudo parece confuso? Sim, são tantos caminhos para seguir, mas por agora, o mais importante e difícil nós conseguimos, acordar e ir para as ruas. Muito feliz também em ter feito e continuar no caminho dessa luta. Sigamos em frente!
ResponderExcluirBelo texto amigo, beijos
Traduziu muito bem muito do que eu senti, ano passado e agora! Demais!
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