segunda-feira, 24 de junho de 2013

A pauta é protesto

Em qualquer lugar. Em qualquer mídia. Pra onde se olhe.

Depois da primeira onda de criminalizar os protestos e manifestantes e da segunda onda de afirmar que as manifestações são majoritariamente pacíficas, com minorias que vandalizam e depredam o patrimônio privado ou público, está acontecendo a terceira onda opinativa sobre os acontecimentos: a de questionar as razões e interpretar o perfil de quem vai à rua.

Os jornais estão recheados de colunas que analisam os pedidos dos manifestantes, que mostram os cartazes mais criativos, que interpretam a própria visão e influência da imprensa nos protestos; matérias que comparam os jovens de hoje com os de 92, 83, 68.

Particularmente, não sei pra que tamanha insistência em entender sociologicamente o perfil das manifestações de forma tão imediata. Os esquerdistas ainda puxam o movimento todo para o seu lado, os direitistas ainda defendem que é tudo culpa do PT. Dilma e Richa ainda estão fazendo seus primeiros pronunciamentos sobre o caso - que, convenhamos, não acrescentaram nada de novo; no máximo ratificaram medidas já tomadas e frisaram a importância da polícia e da pacificidade dos protestos. Posts no Facebook ainda reclamam das máscaras do Guy Fawkes. As pessoas ainda estão indo pras ruas. Enfim: o processo ainda não se desenrolou por completo.

Sobre as causas, o mesmo princípio se aplica: elas ainda estão sendo absorvidas e digeridas por todos. A "cura gay", por exemplo, foi aprovada pela Comissão na semana passada, depois que os protestos haviam começado, mas já virou pauta e motivação para muitos. Além disso, há toda a vastidão de insatisfações antigas que estavam presas na garganta.

Acabo concordando com algumas poucas vozes dispersas que ouvi por aí: se é tudo novidade, é preciso inovar também na interpretação do movimento. É preciso entender que as vozes são muitas, mas não necessariamente vagas; que as causas são muitas, mas por isso aumentam a dimensão do acontecimento; que os mal-intencionados são muitos, mas são suprimidos pelos bem-intencionados (por enquanto, pelo menos!); e que as reivindicações são muitas, mas maior é a vontade de lutar por elas.

É uma visão otimista de tudo, mas é um otimismo proveniente de pequenos resultados brotando: de 15 centavos a menos na passagem de ônibus em Curitiba, de ver que a educação está nos cinco pactos propostos hoje pela presidente, de ver que haverá plebiscito para constituinte da reforma política.

Enquanto vejo e participo dos protestos e espero maiores resultados de toda essa insatisfação, torço pra que o manifestante plural não vire o manifestante idiota e vago que pede pelo impossível e que dá margem para o retrocesso do que já foi alcançado e para a estagnação do que deixa a desejar.

obs: sim, copiei o título da Globo News. Achei válido.

Nenhum comentário:

Postar um comentário