quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Sobre escrever


Ano passado era impressionante, minha cabeça parecia ateliê de artista. Toda a tarde, quando eu sentava para estudar, meu cérebro recusava qualquer tentativa de aprender um pouco de física ou química e se punha a imaginar as mais alternativas histórias que eu poderia estar escrevendo naquele momento.
Tudo o que me restava a fazer era suspirar e pensar; “se eu ficar escrevendo histórias não vou passar no vestibular”. Por outro lado, se eu estudasse física minhas chances aumentariam consideravelmente.
Acho que não preciso dizer que xinguei o sistema educacional brasileiro mais vezes do que posso me lembrar. Por quê um jornalista tem que saber a diferença entre dipolo-induzido e dipolo-permanente de memória? Não seria mil vezes mais útil focar em como escrever um texto decente?
O jeito que arrumei de controlar a minha raiva foi prometendo a mim mesma que, se eu passasse no vestibular, eu ia poder escrever quantos textos quisesse sobre o que me desse na telha, no ano que vem.
Ah, esse famigerado “ano que vem” chegou, e quem disse que as ideias que me acompanhavam ano passado resolveram passar no vestibular comigo? Nada. Elas ficaram revoltadas e perdidas em algum lugar de 2012.
Foi só começar o segundo semestre e ter que escrever uns dois textos por semana que a criatividade bateu asas e voou (desculpem o clichê). Agora, pra sair qualquer frase é um suplício tão grande que parece trabalho de parto. E pra ter ideia sobre o que escrever então? Passo horas olhando para as pessoas na rua, cogitando temas, mas todos parecem batidos demais. Vou escrever sobre dança. Não, eu sempre escrevo sobre isso. Então vou sair na rua e acompanhar a rotina de alguém. Todo jornalista que se preze já fez isso também. Então vou contar quantos velhinhos tem na quinze de manhã. Cara, que monótono.
E o dilema persiste.
Até que, de repente, vem a ideia. E eu só consigo pensar nela. Sento e ligo o computador, fito por alguns segundos o cursor do Word piscar e o texto vem, com muita dificuldade, mas vem. Penso em cada palavra, cada frase. Releio. Mudo uns bons parágrafos. Releio em voz alta. Mudo mais um pouco. Acho que está passável.
E então vem o alívio. Consegui!
Normalmente uma madrugada antes do prazo final, mas não interessa, o texto está pronto enfim.
Depois da entrega me dou o luxo de desfrutar uns dois dias de folga, sem pensar em ideias inovadoras, lendo textos de outras matérias, assistindo aquele filme novo que chegou na locadora.
Alguns rascunhos de ideias mal desenvolvidas até se arriscam a aparecer nesses dias de descanso, mas parece que quando deito no travesseiro na madrugada de domingo para segunda elas se recusam a me acompanhar, e o dilema recomeça. Ideias criativas odeiam segundas-feiras.


Nota: sei que a Vic postou alguma coisa parecida aqui há uns dias, parece que não sou só eu que estou sofrendo de bloqueio criativo ultimamente...

Nenhum comentário:

Postar um comentário