Rosas
amarelas significam amizade, sucesso e uma forma de festejar entre pessoas
conhecidas, como em casamentos, aniversários e a recuperação da vovó no
hospital. A conclusão óbvia desse fato é que jamais se deve conquistar uma
mulher com rosas amarelas. É importante lembrar também, que existe uma parte da
população feminina que não gosta desse clichê do século passado e preferem as
ações originais que as deixem sem palavras. Dar flores para esse tipo de mulher pode ser
desastroso. E por sorte, ou falta dela, me encaixo nessa “espécie”.
A sala de
biologia estava lotada. A única voz a ser ouvida pelos trinta alunos presentes
era a da professora que tentava fazer com que todos despertassem e prestassem atenção
a aula de genética. “Isso vai cair no ENEM”, dizia ela. Porém, quanto mais tentava
focar os olhos no capítulo sobre as Leis de Mendel, mais o sono me consumia.
Então, surge
a figura que iria desgraçar de vez aquela quarta-feira: a secretária do
colégio. Ela trazia um buquê de doze rosas amarelas com matos verdes,
semelhantes àqueles que se leva ao cemitério no dia de finados. Estavam
embrulhados em plásticos dourados e transparentes, envoltos por uma fita
laranja. Lembro-me de eclodir uma gargalhada interna e sentir pena por quem
iria receber aquele presente bizarro.
Percebo que a
vida é cruel: as flores eram para mim. Ser um avestruz naquele instante teria sido
apropriado. Ao recebê-las, leio as palavras no cartão em letras bem desenhadas.
O conteúdo era de cegar. A turma descobriu que eu era o amor da vida de tal
Maicon e que eu “trouche” felicidade ao seu coração apaixonado. Ouço alguém
dizer: “Quem diabo é Maicon?”. Nem eu mesma sabia. Em seguida, cheiro as
flores. Se arrependimento matasse, não daria tempo de morrer desse mal. Quase desfaleci
com o odor de peixe apodrecendo vindo das rosas. O olhar sonhador das meninas sumiu
ao sentir aquele cheiro e deu lugar a olhares enojados. Não sabia que era
possível sentir raiva de alguém que nem se conhece. Mas eu senti uma raiva
mortal do tal Maicon.
Os
passageiros do ônibus não mereciam compartilhar da tragédia. Por isso, um
amigo, cujo carro ficou encalacrado com o fedor da planta, deixou em minha casa
o presente. Foi deixado em cima da toalha branca da mesa da sala. No fim do dia,
era impossível entrar ali, o odor remetia a um necrotério. Como se não bastasse,
a toalha sob as flores ficou manchada de amarelo, como se tivesse sido
queimada. Aquele foi o fim. As flores foram para o lixo.
Mais tarde
descobri que Maicon havia me visto em uma festa e se apaixonado a primeira
vista. Investigou minha vida, descobriu o colégio em que estudava, a rua onde
morava, o nome da minha cadela e o número do meu celular. Ligou e enviou
mensagens. Resolvo informa-lo que odeio flores e que ele fez da minha vida um
inferno. De repente, Maicon some. Fico
preocupada e imagino que tirou sua própria vida ao
não ser correspondido. Descubro que ele mudou de cidade. Mas que ainda tem
esperanças e planos - sem rosas amarelas, dessa vez-, para me conquistar.
Ótimo texto, essa tal de Bruna Letícia tem futuro,
ResponderExcluirtexto interessante, e que passa os detalhes de forma
simples e objetiva, que faz com que fiquemos penetrados
dentro do texto! Continue assim! Parabéns!
Sempre fui teu fã, mesmo antes do jornalismo!
Tudo de bom, e sucesso! Lucas R. ;)
Obrigada, Lucas. R haha
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