segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Olha o que o amor traz


Rosas amarelas significam amizade, sucesso e uma forma de festejar entre pessoas conhecidas, como em casamentos, aniversários e a recuperação da vovó no hospital. A conclusão óbvia desse fato é que jamais se deve conquistar uma mulher com rosas amarelas. É importante lembrar também, que existe uma parte da população feminina que não gosta desse clichê do século passado e preferem as ações originais que as deixem sem palavras. Dar flores para esse tipo de mulher pode ser desastroso. E por sorte, ou falta dela, me encaixo nessa “espécie”.

A sala de biologia estava lotada. A única voz a ser ouvida pelos trinta alunos presentes era a da professora que tentava fazer com que todos despertassem e prestassem atenção a aula de genética. “Isso vai cair no ENEM”, dizia ela. Porém, quanto mais tentava focar os olhos no capítulo sobre as Leis de Mendel, mais o sono me consumia.

Então, surge a figura que iria desgraçar de vez aquela quarta-feira: a secretária do colégio. Ela trazia um buquê de doze rosas amarelas com matos verdes, semelhantes àqueles que se leva ao cemitério no dia de finados. Estavam embrulhados em plásticos dourados e transparentes, envoltos por uma fita laranja. Lembro-me de eclodir uma gargalhada interna e sentir pena por quem iria receber aquele presente bizarro.

Percebo que a vida é cruel: as flores eram para mim. Ser um avestruz naquele instante teria sido apropriado. Ao recebê-las, leio as palavras no cartão em letras bem desenhadas. O conteúdo era de cegar. A turma descobriu que eu era o amor da vida de tal Maicon e que eu “trouche” felicidade ao seu coração apaixonado. Ouço alguém dizer: “Quem diabo é Maicon?”. Nem eu mesma sabia. Em seguida, cheiro as flores. Se arrependimento matasse, não daria tempo de morrer desse mal. Quase desfaleci com o odor de peixe apodrecendo vindo das rosas. O olhar sonhador das meninas sumiu ao sentir aquele cheiro e deu lugar a olhares enojados. Não sabia que era possível sentir raiva de alguém que nem se conhece. Mas eu senti uma raiva mortal do tal Maicon.

Os passageiros do ônibus não mereciam compartilhar da tragédia. Por isso, um amigo, cujo carro ficou encalacrado com o fedor da planta, deixou em minha casa o presente. Foi deixado em cima da toalha branca da mesa da sala. No fim do dia, era impossível entrar ali, o odor remetia a um necrotério. Como se não bastasse, a toalha sob as flores ficou manchada de amarelo, como se tivesse sido queimada. Aquele foi o fim. As flores foram para o lixo.


Mais tarde descobri que Maicon havia me visto em uma festa e se apaixonado a primeira vista. Investigou minha vida, descobriu o colégio em que estudava, a rua onde morava, o nome da minha cadela e o número do meu celular. Ligou e enviou mensagens. Resolvo informa-lo que odeio flores e que ele fez da minha vida um inferno. De repente, Maicon some.  Fico preocupada e imagino que tirou sua própria vida ao não ser correspondido. Descubro que ele mudou de cidade. Mas que ainda tem esperanças e planos - sem rosas amarelas, dessa vez-, para me conquistar. 

2 comentários:

  1. Ótimo texto, essa tal de Bruna Letícia tem futuro,
    texto interessante, e que passa os detalhes de forma
    simples e objetiva, que faz com que fiquemos penetrados
    dentro do texto! Continue assim! Parabéns!
    Sempre fui teu fã, mesmo antes do jornalismo!
    Tudo de bom, e sucesso! Lucas R. ;)

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