quinta-feira, 1 de agosto de 2013

JMJ: desapego, amizade, fé

Todos os sentimentos que vêm à tona quando eu penso nos seis dias de Jornada são indescritíveis. É impossível tentar resumir ou passar as sensações. Mas, quando penso em linhas gerais o que mais marcou, são essas três palavras que mais chegam perto: desapego, amizade e fé.


Desapego.
Na condição de peregrino, você precisa se despojar de muitas práticas que normalmente está acostumado, e adquirir alguns hábitos que vão fazer parte da sua sobrevivência. 
Conforme os dias foram passando, notei a existência do Manual de Regras Invisível do Peregrino. Ele explica essas situações inusitadas com as quais você não está acostumado. Algumas das regras que aprendi:

- O transporte vai tomar uma grande parte do seu tempo.
Mais uma viagem de trem...
Fiquei hospedada em Campo Grande, e levava no mínimo duas horas para chegar em Copacabana. Dormi muito no trem, deitada em colos dos amigos ou encostada no saco de dormir; sentava no chão, cansada, mesmo quando o trem estava cheio. Como peregrino, você não reclama e não se estressa: só encara. Afinal, o que mais pode fazer?

- Você vai comer o que der e quando puder.
Fome é normal. Com as filas quilométricas para o transporte e com uma perspectiva de chegar em casa nada favorável, a fome se torna secundária.

- Sujeira? O que é isso?
Se você tiver levado álcool gel, ok. Caso contrário, suas mãos vão ser uma mistura de metrô com praia, e você ainda vai acabar comendo com elas.

- Quanto menos líquido, menos banheiro.
No Kit Peregrino veio o cantil de água, que felizmente não comporta muita coisa. Aquilo era o máximo que você deveria tomar por dia se não quisesse enfrentar filas homéricas para o banheiro orgânico, pagar dois reais para usar o banheiro mais limpo e um pouco menos lotado ou, em casos extremos, ter que apelar para o mar - infelizmente. Desidratada não fiquei.

Com isso em mente, você enfrentava as adversidades numa boa. Esses eram os maiores problemas dos peregrinos, mas uma coisa é certa: tudo isso vai valer a pena.

Amizade.
Os laços formados durante a viagem - seja com brasileiros ou estrangeiros - são eternos, com certeza. Por mais que as pessoas não se encontrem mais, sempre vão ficar as histórias e os sentimentos positivos. 
PJF
Fui com a Pastoral da Juventude Franciscana (PJF) de Curitiba, e parece que caí no grupo perfeito: faz poucas semanas que os conheço e tenho aquela sensação de que são meus amigos faz tempo. Embora fosse um grupo grande que sempre acabava se separando durante o dia, uns sempre olhavam pelos outros, cuidando, ajudando, rindo e compartilhando os acontecimentos. Não tem como não agradecer especialmente à Samira, à Carol, ao Marcelo, ao Claudio, ao Douglas e à Tais, que me proporcionaram momentos e conversas tão maravilhosos, me ajudaram e cuidaram tanto de mim como da minha irmã. São laços que se formam e não vão se desatar, e que continuam a ser cultivados.

Com a Marina Gaidex e o amigo da Nova Zelândia
having lunch with the lost americans
Quanto aos estrangeiros, as histórias são ótimas e muito aleatórias. 
Eu e minha irmã decidimos personalizar nossas mochilas pedindo assinaturas de todos que conhecíamos (e que ficou linda), e começamos com dois americanos que dormiram demais e seu grupo os esqueceu no hotel. Os encontramos no metrô, indo para Copacabana, e eles estavam desesperados porque não conseguiam pedir um telefone emprestado. Acabamos os ajudando e almoçando com eles, e a conversa rendeu frases como "sabe, nem todos os americanos são gordos", e duas assinaturas: Joey, the lost american e Obligado from Austen.
Durante o Festival da Juventude (um show com bandas católicas, das quais não conhecia nenhuma), as irmãs Saraiva saíram em busca de gringos: conhecemos chilenos, mexicanos, canadenses, muitos franceses e até uma egípcia. Ao final do show, uma das melhores notícias que poderiam nos dar: íamos encontrar com os poloneses! Foi uma alegria imensa, todos muito felizes e amando mais Curitiba depois de conhecer o Rio (verdade). E todos assinaram as mochilas.
Depois disso, encontramos com eles todos os dias, e nos apegamos demais. 
A amizade é um ponto marcante da Jornada porque são elas que moldam todos os acontecimentos. Os eventos em si são lindos, mas se tornam magníficos por causa dos amigos. Duas pessoas foram as que mais me fizeram bem: Jasmine Saraiva, minha companhia eterna, e Marcin Banasik, meu melhor amigo polonês. Eles se fizeram presentes nos momentos mais importantes, e sem eles a Jornada teria perdido muito da sua graça: ficar emocionada com a homilia do Papa e ser abraçada; rir juntos com as piadas internas; ter alguém que te dá seus Polenguinhos do café da manhã; ganhar ajuda com os sacos de dormir; olhar para o céu noturno de Copacabana, deitada, e ter alguém para compartilhar o sentimento de grandeza. Tudo isso é inigualável.

Jasmine & Marcin


Fé.
É desnecessário dizer que quem participou da Jornada foi movido pela fé.
João Paulo II, ao criar o evento, foi de uma grandeza de espírito imensa. Esse é o único evento não competitivo dessa magnitude. É o único que incita a amizade entre países e culturas sem qualquer sentimento de superioridade. E ele promove essa mistura que tem o Cristianismo como fundamento. Você anda em avenidas gigantescas, lotadas de pessoas caminhando na mesma direção, vê bandeiras de 50 países ao seu redor, e sabe que todas elas estão lá pelo mesmo motivo. Pela mesma crença.
Usando os mesmos termos do Papa em seu primeiro encontro com os jovens, Francisco "temperou" essa JMJ com elementos nunca vistos. É óbvio dizer que a sua humildade e sinceridade surpreende, mas ver com os próprios olhos que o Papa não está atrás de uma caixa de vidro blindado faz você se sentir diferente. O que ele diz não é algo que se ouve normalmente. É comovente, é diferente.
Na noite da vigília, com apenas o céu acima de mim, com a lua sorrindo para a praia, era impossível respirar a brisa que vinha do mar e não pensar que tudo não se encaixa por mero acaso. Era impossível não acreditar. 


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